Ano 20

Cinema comercial versus Cinema de autor

Algumas considerações

Sugestionado pela correspondência com Noel - um ilustre leitor do meu blog Insensatez - nos comments do post "Invisibilidade", sobre a Mulher Invisível, de Claudio Torres, gostaria de falar um pouco mais sobre o assunto, além do que há lá.


Pensando melhor nem acho que seja necessário existirem filmes comerciais para que possam existir filmes autorais. Acho que o buraco é mais para baixo, pois em se falando de cinema brasileiro, acho que há hibridez nos dois modelos.

Em plena Boca do Lixo, Jean Garret é de uma autoridade exemplar.

E em plena Embrafilme, Antonio Calmon o é também.

E são dois cineastas maravilhosos, sejam vistos por qualquer ângulo - autoral ou comercial.

O que percebo no cinema brasileiro de hoje é, muitas vezes, um cinema comercial ruim e um cinema autoral frouxo.

Parece-me que muitos cineastas andam perseguindo uma cartilha a cumprir nos dois modelos e aí saem esses filmes sem alma.

Bruno Barreto foi um cineasta que fazia filmes comerciais bons, muitos deles com nítida marca de autor – Dona Flor, Amor Bandido, O Beijo no Asfalto, Romance da Empregada (esse é fabuloso). Mas, ultimamente, parece seguir uma receita, e ela vive desandando – Bossa nova, O Casamento de Romeu e Julieta e Ultima Parada: 174 são muito ruins.

O mesmo vale para Hugo Carvana, que fez Vai trabalhar Vagabundo e Bar Esperança, e cometeu A Casa da Mãe Joana.

Carlos Diegues, que já foi grande com filmes como A Grande Cidade, Xica da Silva, Bye Brasil e Chuvas de Verão, andou seduzido por filmes sem alma como Orfeu e Deus é Brasileiro, e só reencontrou sua grandeza em O Maior Amor do Mundo – que, infelizmente, passou batido.

Já nos autorais, poucos cineastas têm o vigor de Beto Brant, Claudio Assis, Tata Amaral, Eliane Caffé, Lais Bodansky e José Eduardo Belmonte.

E nos comerciais, Guel Arraes, Jorge Furtado e José Alvarenga me interessam enormemente - além de apresentarem um tom híbrido que me seduz.

Realmente não sei se é preciso ter filmes comerciais para que tenha filmes autorais, pois nem sei se um garante a sobrevivência do outro.

Pois Serras da Desordem, de Andrea Tonacci, e Onde Andará Dulce Veiga?, de Guilherme de Almeida Prado, são filmes autorais ótimos, mas sua existência não está garantida por causa de um bom filme comercial, como por exemplo, Divã, de José Alvarenga.

O que eu espero é que no cinema nacional tenham filmes ótimos ou bons, independente de serem autorais ou comerciais.

Mesmo porque minha relação com o cinema brasileiro é muito particular, pois acho que mesmo quando é ruim é ótimo assistir filme brasileiro – e não pela apreciação do lado trash como muita gente tem.

Realmente, amo cinema brasileiro , e, quase basicamente, só ele me interessa atualmente.


continuando...

A Guerra dos Rocha, de Jorge Fernando, é exemplo de filme comercial ruim.

Budapeste, de Walter Carvalho, é exemplo de filme autoral frouxo.

Ultima Parada: 174, de Bruno Barreto é um filme comercial ruim.

Moacir, Arte Bruta, de Walter Carvalho, - que acabei de ver agora - é um filme autoral muito bom.

Mas há uma indecência em Última Parada que me choca.

E há uma certa indecência em Moacir, que me incomoda.

Em Última Parada, vejo uma exploração de uma tragédia, sem o mínimo de interesse nela a não ser a de transformação em filme para consumo. De transformar em espetáculo.

Em Moacir, vejo uma invasão, que ainda imbuída de boas intenções, constrange um tanto. Mas a grandeza de Moacir e de seu pai sobressai a qualquer armadilha ou aparato do registro fílmico.

terça-feira, 9 de junho de 2009

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Sala 
 Ruth de Souza
Pioneira e talentosa atriz, Ruth de Souza é referência para a cultura negra no Brasil.