Ano 20

Avá - Até que os ventos aterrem, 2022, Camila Mota

Um universo em caos em cena

Certa vez um diretor encenou no teatro o poema em prosa de Ferreira Gullar, "Crime na Flora". Desconcertante, ele abria as cortinas já com o público aguardando somente depois de 10 a 15 minutos em que a peça já estava acontecendo. Dessa forma, o estranhamento se instalava de supetão, pois ficava-se sem saber de fato ao que se assistia, com a sensação de ter perdido o fio da meada, ainda que o mostrado fosse sedutor na interpretação dos atores, na trilha sonora e na própria encenação. Com Avá - Até que os ventos aterrem, dirigido por Camila Mota, uma sensação parecida se dá. Ao situar o universo em caos em cena, é como se nós mesmos, espectadores, fossemos mergulhando cada vez mais nesse estado de coisa, em que o sensorial se impõe e nos conduz.

Avá - Até que os ventos aterrem se vale de uma construção estética rigorosa e consegue atingir isso pela fotografia precisa, pela própria imponência moderna da edificação do Teatro Usyna, e, inclusive, valendo-se de toda uma cosmologia criada pelo próprio teatro. Acrescente-se a isso, a presença de uma atriz forte como é a talentosa Joana Medeiros. No entanto, esses mesmos sentidos, plano a plano aguçados pelas escolhas da encenação, nem sempre acompanham a proposta. Em boa parte do filme, fica em descompasso com a fruição, sobretudo pela verborragia, não há silêncios, duelando de igual para igual junto a esse atiçamento.

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Sala 
 Léa Garcia
Dona de um talento ímpar e altivo, Léa Garcia brilha no teatro, na TV e no cinema.