Ano 20

Saneamento Básico - o filme, 2007, Jorge Furtado

Fernanda Torres dá show

Saneamento básico – o filme é mais uma confirmação do talento do cineasta Jorge Furtado. É claro que não dá para comparar com o curta Ilha das flores (1989), obra-prima absoluta do diretor. Mas ainda assim, mesmo que seja inferior aos longas anteriores, O homem que copiava (2003), Meu tio matou um cara (2004) e Houve uma vez dois verões (2002 - estreia no formato), este quarto longa-metragem dá sequência a um estilo todo único – quem dialoga com este estilo seria, talvez, José Roberto Torero.

Saneamento básico – o filme é uma crítica bem-humorada aos novos padrões a que o cinema brasileiro está submetido, ou seja, as leis de incentivo, e, consequentemente, aos marqueteiros e captadores de plantão. Um dos poucos mecanismos para a produção atual de filmes brasileiros, há quem defenda e há quem ataque esse modelo. Jorge Furtado aponta sua mira de fina e inteligente ironia sobre este conturbado quintal cinematográfico.

No filme, habitantes de uma comunidade rural precisam construir uma fossa, mas a subprefeitura não tem verba para essa área. Só que há dinheiro para a realização de um filme, que tem que ser ficção. Com jeitinho, os representantes da comunidade poderiam realizar o tal filme e direcionar o restante do orçamento para a construção da fossa. Dá-se início a confusão e as etapas rocambolescas da realização do tal filme, com os moradores ocupando as diferentes áreas cinematográficas: a cineasta e roteirista, o galã, a mocinha, a produtora, os figurantes etc.

Saneamento básico – o filme diverte, sobretudo na primeira parte. Mesmo que seja um tanto difícil embarcar no mote inicial – a confusão com o termo ficção, a história prende a atenção, apesar de um tanto espichada demais na segunda parte.

Jorge Furtado reuniu um elenco talentoso: Wagner Moura, Camila Pitanga, Paulo José, Tonico Pereira, Bruno Garcia, Janaína Kremer.

Mas é com a escalação de Fernanda Torres que o cineasta acerta em cheio, e a atriz mostra, mais uma vez, porque é, ao lado de Débora Bloch e Andréa Beltrão, uma das mais talentosas de sua geração – e olha que é uma geração poderosa, com nomes como Denise Fraga, Malu Mader e Cláudia Abreu.

É impressionante como Fernanda Torres pode fazer qualquer coisa em cinema. Ela faz drama – Terra estrangeira (1996), de Walter Salles e Daniela Thomas; - comédia rural - Marvada carne (1985), de André Klotzel; romance clássico - Inocência, de Walter Lima Jr; romance urbano - Eu sei que vou te amar, (1986), de Arnaldo Jabor; comédia popular - Beijo 2348/72 (1990), de Walter Rogério; cinema de autor -Miramar (1997), de Júlio Bressane; comédia rasgada - Os normais – o filme (2003), de José Alvarenga Jr.; e muito mais.

Nas telas, Fernanda Torres pode tanto ficar feia como linda, sofisticada como popular, elegante como vulgar, jovem como velha. Realmente, é um furacão de talento, em família de estirpe, que abriga ainda atores do quilate de Fernanda Montenegro e Fernando Torres, e o diretor Cláudio Torres.

Ainda no elenco feminino, Camila Pitanga tem boa presença e está linda, mas olhando mais de perto seu trabalho na TV, como a Bebel em Paraíso tropical, novela de Gilberto Braga, dá para ver que ela é capaz de fazer muito mais. Janaína Kremer, por sua vez, está ótima. A atriz imprime as nuances necessárias, e na medida certa, na composição de Marcela, a funcionária da subprefeitura.

Margarida Peixoto, como uma empresária apoiadora do filme, Irene Brietzke, como uma pedagoga, Sandra Possani como uma freira, e Milene Zardo complementam o elenco feminino.

Na ficha técnica, as presenças de Nora Goulart e Luciana Tomasi na produção executiva; e Rosângela Cortinhas nos figurinos. 

Saneamento Básico - o filme, Brasil, 2007. Direção: Jorge Furtado

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 Léa Garcia
Dona de um talento ímpar e altivo, Léa Garcia brilha no teatro, na TV e no cinema.