Ano 20

Meu nome não é johnny, 2007, Mauro Lima

Em pequena aparição, Cássia Kiss impressiona

Como O cheiro do ralo (2007), de Heitor Dhalia, o filme Meu nome não é johnny, de Mauro Lima, é um veículo para Selton Mello. E isso serve tanto para o bem quanto para o mal. A imprensão que dá é que o roteiro de Cheiro do ralo encontrou em Selton o ator ideal. Já em Meu nome não é johnny, o que parece, é que o roteiro está, em alguns momentos, a serviço do ator. Para o bem é porque Selton é mesmo um grande ator, um dos melhores de sua geração. E para o mal, é porque algumas tiradas engraçadinhas nos diálogos dos personagens, universo muito próprio do ator em trabalhos memoráveis como, por exemplo, na série televisa Os aspones, parecem deslocadas e acabam por tirar a verossimelhança de algumas cenas. Em outras, claro, funciona muitíssimo bem.

Partindo disso, é quase óbvio que não sobra espaço para quase mais ninguém no filme. A não ser quem é macaco velho, como a atriz Cássia Kiss, que aparece pouquíssimo como uma juíza, mas que rouba a cena a cada aparição. Mesmo sem dizer nada e utilizando apenas o recurso da expressão facial, dos olhos profundos e desconcertantes, a atriz mostra mais uma vez porque é grande e porque é muito requisitada tanto para a telona como para a telinha.

Já para quase estreantes, como Cléo Pires, a parada fica um pouco mais difícil. Cléo Pires é linda, tem presença cinematográfica, e é boa atriz. Sua ótima estreia em papel duplo em Benjamim, de Monique Gardenberg, provou do que ela é capaz. Em Meu nome não é johnny, no entanto, apesar da presença constante em cena como Sofia, a namorada do protagonista, ela não conseguir fazer uma composição forte, que a projete no filme.

No elenco coadjuvante feminino, ainda há Julia Lemmertz, como a matriarca, em composição econômica; a veterana Eva Todor, em um papel inesperado; e Rafaela Mandelli, como Laura, parceira das noites de aventuras cocaínômanas, e que, além de Cássia Kiss, é outra marcante presença.

Como se sabe, Meu nome não é johnny é sobre a história real de João Guilherme Estrela, jovem da classe média carioca que se tornou traficante de cocaína no Rio de Janeiro nas décadas de 1980 e 1990 – sua história está contada no livro homônimo, de Guilherme Fiúza, adaptado para o filme pelo diretor Mauro Lima e pela também produtora Mariza Leão.

Mesmo sem querer, Meu nome não é johnny não deixa de ser um contraponto para Tropa de elite (2007), de José Padilha. Se lá, boa parte da culpa pelo tráfico de drogas era creditado aos consumidores do asfalto, aqui, de certa forma, essa classe média voraz e, muitas vezes cinicamente inconsequente, é quase inocentada na figura de João Estrela. O mote da júiza é interessante, de que qualquer vida na bandidagem pode ser recuperada - e eu acredito nisso. Ainda assim, há indulgência por demais pelo menino branco e carismático do aslfalto, quase tratado omo apenas mais um "bad boy" inconsequente.

Vale dizer que, apesar do início cambaleamte, Meu nome não é johnny toma corpo ao longo de sua exibição e é uma boa pedida na atual fase de produção do cinema brasileiro. Mauro Lima, que em 1996 dirigiu o pra lá de alternativo Loura incendiária, e depois entrou no mainstrean com Tainá 2 – a aventura continua e muitos clips de sucesso para músicos como Caetano Veloso, fez de Meu nome não é johnny um filme interessante e que chama atenção para seu nome nesse cinema brasileiro em contínua fase de retomada.

Na ficha técnica, a presença de Reka Koves no figurino

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Sala 
 Léa Garcia
Dona de um talento ímpar e altivo, Léa Garcia brilha no teatro, na TV e no cinema.