Ano 20

Rose Abdallah

A atriz Rose Abdallah nasceu no Rio de Janeiro (RJ) em 24 de dezembro de 1962. A graduação é em arquitetura, mas a atriz vem já da infância: “Na verdade, eu sou arquiteta, porque, filha única, pai militar, então eu tive que ter um canudo, tive que ter uma profissão que não fosse da arte. Mas desde pequena eu faço teatro, eu comecei a fazer com 10, 11 anos de idade, e há 25 eu vivo de arte, de teatro”. E é no teatro que vai desenvolver carreira importante: “Eu tive grandes mestres nacionais e estrangeiros, mas meu grande mestre, meu PHD em teatro foi o Abujamra, Antônio Abujamra. No Rio eu tenho uma companhia de teatro que se chama Fodidos Privilegiados, tem 20 anos, e eu estou nessa companhia há 17. Foi o Abu que batizou o nome do grupo. Fodidos porque fazem teatro no Brasil, Privilegiados porque fazem teatro no Brasil e conseguem fazer”.

A estreia no cinema foi em curta de André Sampaio, cineasta atuante na carreira da atriz nas telas. Ela atua em Polêmica, sobre a rivalidade entre os compositores Noel Rosa e Wilson Batista, que eram apaixonados por uma mesma mulher: “Na verdade, eu faço só a abertura do filme, e é bem marcante, porque eu canto um pedaço do Carinhoso e o Jards Macalé ficou enlouquecido. O Macalé também é outro pé de coelho do André Sampaio, que sempre dá um jeito de colocá-lo nos filmes dele. Eu estava cantando agarrada numa árvore e, de repente, comecei a agarrar a árvore e simular um sexo com ela. O Macalé ficou chocadíssimo, ele falou: “Como? Mas logo no Carinhoso?” .

A partir daí Rose Abdallah atua em vários filmes, como Conçeição, autor bom é autor morto,Feliz Natal e Tropa de elite 2 – o inimigo agora é outro. A atriz é protagonista, ao lado do mítico ator Otoniel Serra, de Stronvengah – amor torto, primeiro longa de ficção de André Sampaio, em que faz Marcela: “A Marcela, como toda burguesa carioca, se permite tudo, é uma aspirante a cantora que não deu certo, encontra um empresário que está a fim de escrever. Ela era amante dele já há um tempo”. A atriz tem ótima atuação no filme: “Eu tive que segurar uma onda interna, eu tive que construir, sair construindo assim, pegando pedacinho daqui, pedacinho dali. Sabe, onde é que essa mulher está aqui dentro para que ela possa existir, para que fique crível? Ainda mais que eu só contracenava com bonecos e tomava banho de cachoeira. Eu falei meu Deus, vai ser uma mulher pelada, maluca, conversando com boneco”.

Rose Abdallah esteve presente na 15ª Mostra de Cinema de Tiradentes, em janeiro de 2012, para o lançamento de Stronvengah – amor torto, de André Sampaio. Ela conversou com o site Mulheres do Cinema Brasileiro e revisitou sua trajetória, falou dos trabalhos no teatro, no cinema e na televisão, a parceria com o cineasta André Sampaio, os filmes com outros diretores, a fase de cantora mirim no Clube do Bolinha, a atuação em Strovengah – amor torto, e outros assuntos.


Mulheres do Cinema Brasileiro: Qual a sua origem, data de nascimento completa e formação?

Rose Abdallah: Rose Abdallah, carioca, Rio de Janeiro, 24 de dezembro de 1962. Eu acabei de fazer 49 anos e minha formação é em teatro. Na verdade, eu sou arquiteta, porque, filha única, pai militar, então eu tive que ter um canudo, tive que ter uma profissão que não fosse da arte. Mas desde pequena eu faço teatro, eu comecei a fazer com 10, 11 anos de idade, e há 25 eu vivo de arte, de teatro. Cheguei ao cinema por André Sampaio.

MCB: Mas vamos recuperar um pouco dessa trajetória no teatro, que é tão forte na sua carreira. 

RA: Eu tive grandes mestres nacionais e estrangeiros, mas meu grande mestre, meu PHD em teatro foi o Abujamra, Antônio Abujamra. No Rio eu tenho uma companhia de teatro que se chamaFodidos Privilegiados, tem 20 anos, e eu estou nessa companhia há 17. Foi o Abu que batizou o nome do grupo. Fodidos porque fazem teatro no Brasil, Privilegiados porque fazem teatro no Brasil e conseguem fazer, e isso foi em 1993. No Fodidos eu sou muito privilegiada, porque é uma companhia no Rio, nós fizemos grandes espetáculos, como Um certo Hamlet, A serpente, Fedra, O casamento do pequeno burguês. Nós somos um grupo bem atuante lá no Rio de Janeiro, fazemos leituras dramáticas, fizemos toda a obra do Brecht, foram 49 leituras, 17 leituras dramáticas do Nelson Rodrigues em 1997. Nós temos agora dois espetáculos que não são as peças do Nelson, mas é o primeiro romance dele, O Casamento, e fizemos também Escravas do amor, que foi o primeiro folhetim que ele assinou como Suzana Flag. Então, O casamento fizemos em 1997, o Escravas do Amor em 2006, e continuamos até hoje fazendo ainda esse espetáculo, feito há 15 anos. A gente está voltando para Curitiba este ano, no Festival, com O casamento, porque o Festival está todo voltado para os 100 anos de Nelson, se ele estivesse vivo.

MCB: E o cinema? 

RA: Eu comecei a fazer cinema com o primeiro curta do André Sampaio, ele me convidou para fazer o Polêmica. Ele foi assistir O casamento e me convidou para fazer o curta, que é sobre uma polêmica entre o Noel Rosa e o Wilson Batista. Eles eram apaixonados por uma mulher e eu vivi essa mulher. Na verdade, eu faço só a abertura do filme, e é bem marcante, porque eu canto um pedaço do Carinhoso e o Jards Macalé ficou enlouquecido. O Macalé também é outro pé de coelho do André Sampaio, que sempre dá um jeito de colocá-lo nos filmes dele. Eu estava cantando agarrada numa árvore e, de repente, comecei a agarrar a árvore e simular um sexo com ela. O Macalé ficou chocadíssimo, ele falou: “Como? Mas logo no Carinhoso?” (risos).

Eu falei “mas Macalé, a árvore, madeira, madeira, violão, violão, música”. Depois eu fiz oTire os óculos e recolhe o homem, e o Macalé foi o protagonista do filme. Fiz uma participação como princesinha do iê-iê-iê, sempre como cantora, olha que loucura!

MCB: Eu já ia comentar sobre isso...

RA: É, olha que doido. Eu fiz o Tira o óculos, fiz o Conceição – autor bom é autor morto. O Conceição foi um filme que os meninos da UFI fizeram, começaram a fazer também em 90 e tal e só foi terminado em 2008. Eu já entrei no final, a minha cena é resto de negativo, sabe, sobrou um pedacinho de negativo. Daí o André, como eu sou pé de coelho dele, disse “vamos colocar a Rose no Conceição!”. Aí eu entro com uma cena que também foi bem impactante. Fiz outras participações, Tropa de elite (José Padilha), fiz o Feliz Natal, do Selton (Mello), mas eu sou cria mesmo do André.

MCB: E como você, que vem de uma carreira de teatro bem-sucedida, inclusive...

RA: É, bastante...

MCB: Como foi essa transição do teatro para o cinema? 

RA: Enriquecedora. Enriquecedora, porque são linguagens completamente diferentes.

MCB: Mas foi tranquilo para você?

RA: Não. O André me deu a tranquilidade, sabe, porque ele já tinha me visto muito no teatro. No teatro você tem que falar “Eu te amo” para a fila W27 ouvir, no cinema não. O ator quer mais é fazer, fazer, fazer, e no cinema você tem que tirar, secar, secar, secar, secar, secar, secar. Não foi muito tranquilo não.

MCB: Mas o cinema estava no seu imaginário...

RA: Sempre. Eu não quero mais parar, deixar de fazer, inclusive, no próximo longa do André,Arca de Noé, o Noé é um rastafári, um negro, e não tem elenco, é o Noé com a sua mulher e os bichos. Eu falei “André, eu preciso estar aí nessa arca, eu quero fazer um bicho” (risos). Daí ele virou pra mim e disse: “Você vai fazer uma cabra”. E eu: “Caramba! Como eu vou fazer uma cabra?” Mas tudo bem, eu confio, e ele já me mudou, eu já evolui, eu vou ser a mulher do Noé (risos). Ele falou “você vai ter que deixar o cabelo branco, você vai fazer isso pelo cinema?”. Eu falei “eu faço isso por você, por você eu deixo o cabelo branco, eu corto, fico careca”. Eu vou fazer esse próximo longa dele, eu estou aqui já aflita.

MCB: Fora o cinema do André, você citou o Padilha e citou aí o Selton Mello. 

RA: É, eu fiz o Feliz Natal.

MCB: Fale um pouco sobre esses trabalhos.

RA: O Feliz Natal foi o primeiro longa do Selton, e ele é um cara de teatro também. Ele começou a fazer TV com três anos de idade, mas ele trabalhou muito em teatro, então ele se cercou de atores de teatro. Ele buscou a Darlene Glória e o Paulinho Guarnieri. Ele só trabalhou com gente de teatro no Feliz Natal e para mim foi um grande aprendizado, muito diferente da estrutura em que eu trabalho com o André, com uma equipe pequena, baixo orçamento, perto do que foi o baixo orçamento do Feliz Natal, foi miséria de orçamento. O Selton vem de uma outra escola, muito diferente, você via imediatamente, sabe, você fazia a cena, você ia lá, olhava, podia refazer.

MCB: E como era a personagem? Fale um pouco dela.

RA: O Feliz Natal é a história de uma família aos trancos e barrancos, como quase toda família que se encontra no Natal para ter aquele encontro hipócrita, para cantar Jingle bell. A minha personagem é irmã da personagem principal, que a Grazi (Graziella Moretto) fazia. Era uma família Rodrigueana, e eu tinha um caso amoroso com o marido da minha irmã, a minha irmã tinha um caso com o irmão do seu marido (risos). É.  Uma coisa Rodrigueana. Mas foi bem divertido, foram dez dias no set, o meu era numa casa na Ilha do Governador. O Selton não contava com o Galeão, então, toda vez que passava um avião nós tínhamos que parar, esperar. Eu vi o filme muito depois, porque quando eu estava filmando o Feliz Natal, estava sendo lançado o Conceição. Quando foi lançado o Strovengah (André Sampaio), eu estava filmando, aqui em Tiradentes, gravando Dercy, a minissérie da Dercy (Gonçalves, Dercy de verdade) da Globo. Então é tão confuso tudo, eu estou falando misturando todas as linguagens.

MCB: Imagina, mas é isso mesmo.

RA: Então eu nunca vi. Eu nunca estive em pré-estreia.

MCB: A Graziella, que tem uma carreira importante, anda sumida do cinema, não é?

RA: Ela anda sumida do cinema.

MCB: Parece que ela até vai fazer a nova novela da Globo.

RA: Vai, vai.

MCB: Mas no cinema...

RA: Ela parou no Feliz Natal, último filme dela, aí teve toda aquela polêmica do Pedro (Pedro Cardoso, namorado da atriz na época), o Pedro falou do nu...

MCB: E espero que isso não a tenha prejudicado.

RA: Mas ela pariu, não é? Ela teve dois filhos.

MCB: Eu espero que não tenha prejudicado, porque ela é uma grande atriz.

RA: É, ela é genial. Dizem que nós nos parecemos, por isso eu acabei sendo a irmã mais velha dela no filme.

MCB: E o Tropa de elite (Tropa de Elite 2 - o inimigo agora é outro)?

RA: O Tropa de elite foi tudo por acaso. Nele eu fiz uma participação. Eu tinha filmado o Feliz Natal e o assistente do Selton era o assistente do Padilha no Tropa 2. Eu acho que eu tenho, eu sou bem abençoada pelos deuses, porque uma coisa puxa outra, não é? O Rafael falou “gente, tem que chamar a Rose, temos que colocar a Rose, a Rose”. E aí inventaram uma escrivã numa delegacia. São três momentos, são três dias em que o bandidão da milícia vai lá dar o seu depoimento. Mas também foi um presente do Rafael, que fez assistência do Selton e que estava fazendo assistência do Padilha. E esse filme já é uma outra, esse filme já foi para o mundo, muita grana, muito apoio, muito...

MCB: Muita expectativa.

RA: Muita expectativa. O Tropa 2 já veio com toda a força do Tropa 1. É, esse foi brincadeira sim, brincadeira queridamente falando, mas foi um encontro, um encontro feliz.

MCB: E vamos falar agora da Marcela, desse trabalho no Strovengah - amor torto, do André Sampaio?

RA: Marcela. É engraçado, porque eu concordo com o crítico que falou que o nome dela passa batido, mas é verdade. Ontem, depois que eu saí da exibição, teve um ator, um jovem ator, Lucas (Salles), que fez o filme da Rosane Svartman...

MCB: O Desenrola.

RA: O Desenrola. Ele veio pra mim e falou assim: “Eu fiquei muito impressionado com o teu personagem, porque você busca palavra, o teu movimento é muito contido, mas o filme é tão rico, é tão rico, que qualquer levantadinha de mão, eu acho que é desnecessário”. A Marcela, como toda burguesa carioca, se permite tudo, é uma aspirante a cantora que não deu certo, encontra um empresário que está a fim de escrever. Ela era amante dele já há um tempo, e isso também passa batido pelo filme, eles têm uma relação, no roteiro, de cinco, sete anos, mas sempre amante dele. Até que ele resolve assumir essa mulher, compra uma casa na serra e vai morar com ela lá. As expectativas são diferentes, ele foi para a serra para uma coisa, ela para outra, então ali houve a ruptura daquele casal. Para mim, pelo menos, na minha cabeça, Marcela era mais odara, mais tranquila. O Pedro não, o Pedro tinha uma missão, ele queria escrever o livro, ele queria romper com a família, com o pai austero, com o melhor amigo que se deu melhor na vida profissional que ele. Marcela era mais tranquila, acho que ela estava querendo curtir mesmo aquele momento de paz com ele, e que não teve, não houve, não houve um momento de paz com ele de jeito algum. Nem de romance, não é? Porque eles não tiveram nenhum encontro. Eu acho bem bacana no filme, porque a primeira vez que eles se encontram já são 20 minutos de filme passado, e você a perder toda a história deles, duas pessoinhas distantes uma da outra, bem distantes, no mesmo lugar, como a gente aqui agora, tão próximo, mas de repente tua cabeça tá lá.

MCB: O filme tem uma assinatura muito forte e um grande trabalho de atriz. Tem, claro, a forte presença do Otoniel Serra e, ao contrário do crítico, eu sempre me lembro do nome de sua personagem, com ele chamando “Marcela, Marcela”.

RA: É verdade. Ele fala o tempo inteiro (risos).

MCB: Mas ali tem uma assinatura sua de atriz que é muito forte, a sua interpretação. Eu queria saber mais sobre esse seu trabalho de atriz no filme.

RA: Eu concordo até um pouquinho, porque era uma outra coisa. Era um outro roteiro, era praia, foi cortado, muito corte, muito corte, muito corte. Eu até conversei com o André, eu falei “nossa, André, minha personagem ficou muito sequelada”. Porque toda a historinha dela, essa história da cantora, lá não fica muito clara. Então, eu tive que segurar uma onda interna, eu tive que construir, sair construindo assim, pegando pedacinho daqui, pedacinho dali. Sabe, onde é que essa mulher está aqui dentro para que ela possa existir, para que fique crível? Ainda mais que eu só contracenava com bonecos e tomava banho de cachoeira. Eu falei “meu Deus, vai ser uma mulher pelada, maluca, conversando com boneco. Foram muito importantes os papos que eu tive com André, antes, eu falei “não, vamos buscar, tentar trazer mais para o humano, vamos humanizar essa pessoa para ela não ficar maluca, ser mais uma maluca pelada, sabe, no cinema”. Foi difícil, foi muito difícil. Eu, quando vi, eu vi ontem pela segunda vez, eu fico, eu me sinto oprimida, sabe, eu fico “caraca”. E isso existe, essas pessoas existem, eu existo, não, é? Partiu de mim. Então, aquela loucura toda é minha também, está aqui dentro, a gente abre uma portinha pra usar. Você ficar 15 dias no meio do mato, esquece que é filme, estou eu e você no meio do mato, sabe, é uma exposição muito grande, é uma exposição fortíssima, e eu gosto de brincar de verdade. Quando eu falei do Tropa de elite, que foi uma brincadeira, até brincando eu levo muito a sério a brincadeira. O que eu pude trazer do meu mundo para essa personagem, para essa mulher, para ela ter credibilidade. E, claro, a técnica. Você busca tudo que você tem dentro, não só do teu humano quanto da tua técnica, da tua formação. Você vai lá atrás das tuas informações, das coisas, das tuas referências. Esse filme eu comecei sem referência, falei “meu Deus!”. Porque era uma praia, de repente foi para uma montanha, o meu estuprador era um cara que tinha acabado de sair da Ilha Grande, mudou para um pastor... Eu falei “opa!”. Eu tive que aprumar a minha energia para não descanalizar enlouquecidamente. Eu fico muito feliz com a tua observação, porque é uma grande responsabilidade para não ficar mais uma mulher maluca pelada no cinema nacional, e eu agradeço muito você ter sacado isso, de verdade.

MCB: E o encontro com o Otoniel Serra, que é um ator icônico na história do cinema. Como foi?

RA: O encontro com o Otoniel foi presente. O que é segurar uma câmera num close absoluto de cinco minutos? Falei “meu Deus, esse homem é um monstrinho!”. Porque cinco minutos é muita coisa, cinco minutos é coisa pra caramba. Eu falo todo o bife aqui agora do Shakespeare, do Hamlet, em cinco minutos, sabe. E o Otoniel segura assim, olhando para você numa lente, numa câmera, lindo. Eu falei “caraca”, foi um aprendizado, um aprendizado. O Abujamra fala “eu não acredito em ensino, mas em aprendizado”. O Otoniel gosta de ensinar e eu adoro aprender, então foi uma belíssima troca. Eu fiquei aberta, falei “deixa receber isso”. Risos

MCB: Agora, e o lado da cantora? Fiquei curioso sobre isso, sobre essas personagens nos filmes do Sampaio.

RA: Menino... risos. Eu acho que ele psicografou a minha vida, esse André Sampaio. Porque eu comecei cantando, olha que loucura, comecei. É até engraçado, mas é verdade. Eu morava em Santos, apesar de ser carioca, meu pai foi militar, então eu viajei muito pelo Brasil, e em Santos eu cantava. Eu frequentei até o Clube do Bolinha, cantei no Clube do Bolinha. Risos.

MCB: Que ótimo!

RA: Verdade. Assim, com meus seis, sete, oito, nove anos, eu viajava, ia para shows com o Bolinha. Eu tenho várias fotos com Jerry Adriane. Risos.

MCB: Maravilha!

RA: Mas aí eu descobri o teatro. Um dos meus amigos cantores mirins falou que estava ensaiando uma peça. Daí, amado, quando eu parei e vi aquele ensaio, com onze anos de idade, falei “ah, é aqui o meu lugar, aqui é minha praia, aqui é minha ilha, aqui é o meu mundo”. Aí eu parei de cantar, mas eu canto sempre, sempre que posso em musical. Eu não sou uma cantora, eu estudei canto lá atrás, com oito, nove anos de idade. Então eu não sou uma cantora. Hoje em dia os musicais são cada vez maiores, não é?, graças a Deus. Eu não sou uma cantora de musical, mas canto. Agora eu estou fazendo uma peça, Olho nu, a gente ficou em cartaz no Rio o ano inteiro de 2011. Eu estou indo para São Paulo, agora depois do carnaval. Na peça a minha personagem canta também, daqui a pouco eu vou gravar um CD. Risos.

MCB: Me fala mais do Bolinha, porque o Bolinha é maravilhoso.

RA: Maravilhoooooooso! Risos. Eu fui para o Bolinha várias vezes. Risos.

MCB: Como era ali com ele? 

RA: Ah, mas eu era pequetitinha, não é?

MCB: O que você consegue lembrar?

RA: Os bastidores, ele com aquela sua barriguinha, aquelas camisas, era uma calça, eu não sei nem o nome, posso aqui está blasfemando, mas parecia um tergal, sabe, muito passado com um vinco. Ele com umas camisas coloridíssimas. A gente fazia de tudo no programa do Bolinha porque o Bolinha também fazia show fora da TV. Eram aqueles contratos que nem hoje, a Praça da Alegria vai fazer um show lá com alguns convidados, e aí o Bolinha chamava a galera mirim. Eu ia sempre, ele me adorava. Eu ganhava vários presentes. Na época não tinha dinheiro, não se pagava criança, mas era presente, bonecas, bicicletas. Tenho várias fotos, depois a gente troca. Risos. Mamãe tem todo o meu momento Bolinha. Jerry Adriane, Ronnie Von, Wanderleia, várias fotos com essa galera.

MCB: Que ótimo.

MCB: Você citou rapidamente o Dercy (Dercy de verdade). E a televisão?

RA: Dercy. Dercy para mim foi outro presente. Eu estou muito abençoada pelos deuses, obrigada Senhor! Eu fui chamada pelo produtor de elenco, Nelson Fonseca, que é genial. Eu fiz a Maria Castro, que era a dona da companhia que a Dercy fugiu de Madalena para o mundo. Foi, na verdade, uma participação muito luxuosíssima. O Nelsinho queria uma equipe de teatro, um grupo de teatro, mas a minha companhia, o Fodidos, estava indo para o Festival de Angra. Só eu acabei podendo ir porque era mais fácil eu conseguir um stand in pra estar lá em Angra, e daí fazer o Dercy. Gente, eu achei genial. Eu fiz quatro capítulos, cento e três anos em quatro capítulos não é pouca coisa, então eu representei o teatro em todo o presente.                           

Maria Castro, genial que ninguém sabe, não tem fotos dela, a Dercy falava muito, agradeceu muito a Maria Castro. Elas passaram juntas quase onze anos, mais ou menos. Depois que a Maria Castro teve problemas com a família, com a mãe dela, ela vendeu todo o acervo e a Dercy comprou tudo, figurino, cenário. Era um mambembe, elas andavam numa carroça viajando pelo interior do Brasil. Então é um presentão, não é?, presentaço. TV é muito maluco ainda, para mim mais maluco na minha cabeça, porque são três câmeras, então é exercício, você tem que fazer, fazer e fazer. Teatro é repetição, cinema é muito focado. Hoje em dia tem essa coisa HD, que você pode fazer várias vezes a mesma cena. E na televisão você tem três câmeras, uma equipe monstruosa, então é um outro tipo de trabalho, uma outra linguagem. Eu fiz muito pouco TV, todas as minhas participações foram sempre nas produções de humor. O Zé Alvarenga também adora trabalhar com atores de teatro, então eu fiz todos os humorísticos que ele dirigiu, A diarista, Sob nova direção. Todos esses que era do núcleo do Alvarenga eu fiz, agora eu não vou me lembrar de todos.

MCB: Você falou que vai trabalhar no novo longa do André.  Tem mais algum outro projeto em cinema?

RA: Tenho. Eu tenho mas ...

MCB: .. mas não pode falar.

RA: Não, é porque eu não sei. O Ricardo Miranda, que é um outro diretor, depois que ele saiu da exibição do Strovengah, nos fomos jantar. Estava todo mundo nervoso, eu não vi a apresentação porque eu estava fazendo o Dercy. Saímos para jantar eu, Ricardo, o André, uma galera. Aí o Ricardo falou “olha, eu vou fazer o meu próximo longa e gostaria que você estivesse nele”. O André até sacaneou “quero ler o roteiro antes para ver se eu libero a minha atriz”. Então eu vou fazer esse do Ricardo que ele já tem o roteiro, já está trabalhando em cima, mas eu não sei nem o nome, então vai ser leviano eu falar. E tem o Arca de Noé, com o André Sampaio.

E tem um outro filme, da minha diretora no teatro, eu a convidei. Ela fez dois curtas, um chamadoNa madrugada, que é uma adaptação de um conto da Heloísa Seixas, com a Ana Lúcia Torre e a Denise Weinberg, que são duas monstrinhas do teatro e do cinema. Esse filme circulou o mundo. Ela se chama Duda Gorter. A Duda também fez o Francamente, que é com a Ana Lúcia Torre, o Ernesto Picollo, e com o Castro Gonzaga, antes dele morrer. Então eu vi esses dois curtas da Duda e fiquei encantada, apaixonada, e lancei um desafio, eu falei “Dudinha, quer me dirigir no teatro?” Ela “mas Rose, eu nunca fiz”. Eu falei “está a fim?” Ela já tinha me convidado para o primeiro longa dela, que está sendo captado, já está meio caminho andado. Ela vai me matar, mas eu não lembro o nome do longa, que é com a Beth Goulart, que faz a protagonista. Eu, para variar, vou fazer a antagonista, a mala, a chata, a Bette Davis. Engraçado, porque no Strovengah eu não faço uma mazinha, sempre me colocam para fazer uma má, devo ter esse perfil. Risos. Perfil Bette Davis. O Dadá que fala isso “você é nossa Bette Davis contemporânea”.  Severino Dadá, pai do André, grande montador. Estou com três longas para filmar, estou bem, heim!

MCB: Muito bem. Para finalizar, as duas únicas perguntas fixas do site, qual o último filme brasileiro que você assistiu, sem ser o seu?  E qual mulher do cinema brasileiro, de qualquer época e de qualquer área, que você deixa registrada na sua entrevista como uma homenagem? 

RA: Ah, deixar uma mulher só é uma judiação, porque tem várias mulheres que eu amo. Eu vou falar rapidamente algumas: Darlene Glória, imbatível. Helena Ignez é minha musa inspiradora. Marília Pêra. Helena, Darlene, Marília são as minhas musas no cinema.

MCB: E o filme?

RA: O último que eu vi foi O palhaço, do Selton.

MCB: Muito obrigado pela entrevista.


Entrevista realizada durante a 15a Mostra de Cinema de Tiradentes, em janeiro de 2012.

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Sala 
 Sala Dina Sfat
Atriz intensa nas telas e de personalidade forte, com falas polêmicas.