Ano 20

Paula Pripas

A produtora Paula Pripas nasceu em 18 de dezembro de 1980, em São Carlos (SP). A graduação é em Imagem e Som pela UFSCAR – Universidade Federal de São Carlos. A vocação para produtora já vem desde os tempos de colégio, e depois se efetua na época da Faculdade, de 1999 a 2002: “Olha, eu acho que sou produtora desde o colegial, eu estudei em uma escola muito legal e eu comecei a fazer vídeos já na escola, daí eu fui fazer Imagem e Som. Desde a faculdade eu sempre fui produtora em todos os projetos”.

Paula Pipas vai para São Paulo e funda a produtora Filmes de Abril junto com amigos: “Eu fui para São Paulo muito porque eles já estavam lá, Ester Fér que é minha sócia, Rodrigo Dias, a Mônica Palazzo, foi muito importante esse encontro (mais a Karina Zimmer). Quando eu me mudei para São Paulo cada um trabalhava em longas, o Dias era assistente de direção e continuísta, já a Mônica sempre foi diretora de arte. Quando começou o projeto do primeiro curta dela, da Mônica Palazzo, que é o Páginas de menina, foi quando a gente formou a produtora, eu já estava há dois anos em São Paulo e eles há bem mais”.

A Filmes de Abril produz vários curtas, e daí vem o primeiro longa, o premiado Os dias com ele, de Maria Clara Escobar, duplamente vencedor da Mostra Aurora da 16ª Mostra de Cinema de Tiradentes, com o Prêmio da Crítica e do Júri Jovem: “Ela me procurou e na hora eu falei “esse é um filme que se a gente não conseguir nada, eu consigo fazer esse filme, a gente consegue mandar lá para Portugal. Mas aí nós já começamos a pensar ‘vamos escrever em tal lugar, começar com esses pequenos fundos’, foi uma parceria muito rica. Eu apresentei o projeto para os meus sócios e eles falaram que tínhamos que fazer esse filme agora. Então foi mesmo uma parceria muito rica, pessoal e profissional, foi maravilhoso”. 

Paula Pripas participou do lançamento de Os dias com ele na 16ª Mostra de Cinema de Tiradentes, em janeiro de 2013. Ela conversou com o site Mulheres do Cinema Brasileiro e falou sobre sua trajetória, sua formação, a vocação para a produção, os filmes em que trabalhou, a produtora Filmes de Abril, o filme Os dias com ele e outros assuntos.



Mulheres do Cinema Brasileiro: Bom, para começar, origem, data de nascimento e formação. 

Paula Pripas: Sou Paula Pripas, sou de São Carlos, me formei lá na UFSCAR – Universidade de São Carlos, curso de Imagem e Som, nasci no dia 18 de dezembro de 1980.

MCB: Você começou a trabalhar no audiovisual em São Carlos? Como se deu esse início, saindo da área acadêmica para o trabalho profissional?

PP: Olha, eu acho que sou produtora desde o colegial, eu estudei em uma escola muito legal e eu comecei a fazer vídeos já na escola, daí eu fui fazer Imagem e Som. Desde a faculdade eu sempre fui produtora em todos os projetos.

MCB: E isso quando?

PP: Eu entrei em 99 e saí em 2003, 2002.

MCB: Dá para você citar o nome de alguns trabalhos que você fez no início dessa trajetória? 

PP: Teve um curtinha que chamava Jantar para três. Teve outro chamado Gastromicidas, que foi um projeto de DVD interativo, era uma historinha de suspense, então o espectador podia escolher os caminhos e cada história se desembocava em um assassino, a Graziela Moretto, o Ney Piacentini, bem interessante.

MCB: E aí vocês fundam a produtora Filme de Abril quando vão para São Paulo, não é isso? Porque vocês são amigos...

PP: Sim, eu sou bichete deles, eu fui para São Paulo muito porque eles já estavam lá, Ester Fér que é minha sócia, Rodrigo Dias, a Mônica Palazzo, foi muito importante esse encontro (mais a Karina Zimmer). Quando eu me mudei para São Paulo cada um trabalhava em longas, o Dias era assistente de direção e continuísta, já a Mônica sempre foi diretora de arte. Quando começou o projeto do primeiro curta dela, da Mônica Palazzo, que é o Páginas de menina, foi quando a gente formou a produtora, eu já estava há dois anos em São Paulo e eles há bem mais.

MCB: Quando? 

PP: Em 2005.

MCB: Na produtora você tem as funções de produtora executiva e produtora de finalização. O que é produtora de finalização? Porque executiva já é mais comum.

PP: Produtora de finalização é quem coordena toda essa logística da finalização, então tem que entender um pouquinho de tudo da finalização. Por exemplo: o editor de som me liga falando “esse projeto veio errado”. Então eu que faço essa ponte com a finalizadora, com a edição de som, com o editor de imagem, com o mixador, com o corista. É uma função que pode ser feita pela produtora executiva, mas por muito tempo foi feita pelo fotógrafo do filme, ele que ficava encarregado de finalizar o filme, e agora tem essa especificidade da produtora de finalização. Às vezes o diretor se encarregava dessa função, mas é uma função mais de logística. Agora, com o digital, tem essas várias formas de transfer, película, correção de cor, marcação de luz, tudo isso.

MCB: Qual foi seu primeiro filme na produtora? Foi um curta? 

PP: Foi o curta Páginas de menina.

MCB: Como vocês são sócios e produtores, todos os filmes originados de lá, seja curta ou longa, passam por todos vocês para apreciação antes de resolverem fazer? E depois cada um se divide nas suas respectivas funções?

PP: Exatamente, a gente tem essa avaliação prévia. Talvez por um período curto não teve porque eram filmes nossos, claro que tinha um olhar crítico, tinha todo uma preparação, mas, obviamente, abrimos a produtora pra fazermos nossos filmes, queríamos fazer do nosso jeito. Mas tem vários projetos de outros diretores, a Maria Clara (Escobar), inclusive, não é minha sócia. Os projetos passam pelo crivo de todos, é uma avaliação bem bacana e rigorosa.

MCB: Você poderia citar esses curtas em que você trabalhou dentro da produtora?

PP: Olha, tem Páginas de menina, de 2008, depois vem o Depois do almoço, que é do Rodrigo Dias, e que foi um curta delicioso de fazer também, ambos passaram por muitos festivais nacionais e internacionais, receberam prêmios, foi muito bacana. Tem o Variante, que é o da Ester Fér, mas que eu não produzi, eu dei uma ajuda de companheira pra ela, e daí vem o Iluminados, do Daniel de Alemar, de 2010, foi prêmio de estímulo. Tem o Sons do divino e o espírito santo de silêncio, da Cláudia Pinheiro, que começou em 2010 e terminou agora em 2013. Ela bancou o filme em uma Festa do Divino, lá em Parati, então foi um processo bem mais lento. Aí vem o Aquém das nuvens, que é uma parceria com a Pret a Portê Filmes, da Juliana Vicente, que é da Renata Martins, também um prêmio estímulo, e outro prêmio estímulo foi o Xirê, que é do Gui Cézar, sobre o ritual do candomblé.

MCB: E todos eles nessas funções?

PP: Sempre produção executiva e produção de finalização.

MCB: O filme Os dias com ele, da Maria Clara Escobar, é o primeiro longa da produtora? 

PP: É o nosso primeiro longa, eu assino como produtora executiva.

MCB: Como esse projeto chegou até vocês? 

PP: A gente se conheceu na Cinemateca, eu trabalhava lá também, e ficamos amigas. Quando surgiu a ideia, a gente acordou que precisava fazer esse projeto. Eu já tinha trabalhado com o João Batista de Andrade no Vlado - 30 anos depois e no Veias e vinhos, que são dois filmes sobre ditadura.  Ela me procurou e na hora eu falei “esse é um filme que se a gente não conseguir nada, eu consigo fazer esse filme, a gente consegue mandar lá para Portugal. Mas aí nós já começamos a pensar “vamos escrever em tal lugar, começar com esses pequenos fundos”, foi uma parceria muito rica. Eu apresentei o projeto para os meus sócios e eles falaram que tínhamos que fazer esse filme agora. Então foi mesmo uma parceria muito rica, pessoal e profissional, foi maravilhoso. 

MCB: Vocês estão trabalhando agora no lançamento do filme em festivais ou já é para o circuito?

PP: Não, primeiro festivais, acho que esse é um filme que tem que rodar muito até ser lançado.

MCB: Ele já circulou ou aqui foi a primeira fez? 

PP: Aqui foi a estreia mundial.

MCB: Você citou rapidamente o trabalho com o João Batista Andrade. Você faz outros trabalhos fora da produtora? Já fez ou continua fazendo? 

PP: No começo sim, porque estávamos começando, fazendo curta-metragem, tinha que sobreviver. Há dois anos e meio que eu estou exclusivamente na produtora.

MCB: Você poderia citar alguns trabalhos nesse período em que você não estava exclusiva?

PP: Antes da produtora eu trabalhei com o Joel Pizzini e com a Paloma Rocha, foi maravilhoso. 

MCB: Quais são os filmes?

PP: Com a Paloma e o Joel foram dois Retratos Brasileiros para o canal Brasil: Elogio da luz e Retratos da terra. Tudo isso como assistente, estava começando, foi 2003, 2004. Depois eu fui trabalhar com o João Batista, fiquei dois anos com ele. Trabalhei com a Ariane Porto também, fazendo festival e um projeto chamado Bem-te-vi, que era de oficinas de audiovisual feitas para crianças, os filmes eram, do começo ao fim, feitos por crianças. Daí eu fui trabalhar na cinemateca da Programadora Brasil e depois exclusivamente na Filmes de Abril.

MCB: Você falou que sempre quis ser produtora. Por quê?

PP: Olha, na verdade não é que eu sempre soube, meu intuito ao fazer o curso Imagem e Som era ser diretora de arte. Só que eu não sei nem desenhar palitinho, sou péssima, mas eu gosto muito, o que me chama muito atenção em filme é a arte. Eu sempre tive esse espírito que eu te falei, desde o colegial, de conseguir viabilizar essas produções, acho que estava no sangue. 

MCB: O cinema brasileiro é muito marcado por produtoras, por mulheres, não é?

PP: Sim.

MCB: Vocês se dialogam, trocam figurinha? Você tem contato com outras produtoras, fazem parcerias?

PP: Tenho, faço bastante. Com a Juliana, da Pret a Portê, foi uma delícia, ela é ótima. Eu acho que essa a minha geração tem mais vontade de troca, né. A gente acabou de fazer uma chapa na ABD e ganhamos as eleições essa semana em São Paulo. Entrar nessas associações proporciona uma troca muito rica não só de conteúdo, mas de modo de produção, outros meios de produção, como viabilizar projetos menores ou gigantescos. Acho que isso é muito importante, mas acho que o que proporciona mesmo esse contato é festival, essa troca é muito rica. No Histórias que ficam, que é esse edital que a gente ganhou, nós ganhamos laboratório muito rico com o Marcelo Gomes, com a Dani Capelas, tanto na preparação do roteiro, uma primeira fase de roteiro, e outra de edição de som. Lá temos mais três projetos contemplados e as produtoras sempre trocando “como você está fazendo isso? O que você conseguiu? Como está sendo com a direção?”.  E aí eu consegui pra outros dois projetos o apoio da Quanta, a gente fechou um pacote dos três filmes para finalizar na Quanta. Isso eu faço muito, viabilizar outros projetos, fechar um pacote que é bom pra todo mundo, os filmes entram na fila por um preço melhor ou mais acessível. Ou então fechar pacotes com aluguel de câmera, aluguel de equipamento. Às vezes a gente sabe que tem um curtinha que vai rolar na primeira semana e daí tentamos fazer uma parceria. Inclusive para o Iluminados e o Sons do divino, que foram produzidos perto, eu fechei um pacote para os dois filmes inteiros nos mesmos lugares, que foi pra gente conseguir viabilizar melhor a produção. Eu acho que é uma tendência de companheirismo, mas não só produtoras, eu tenho muito amigos produtores, isso é muito legal. 

MCB: Voltando ao filme da Maria Clara Escobar, eu gosto muito do filme, e desde o título, que 

PP: Sim, era um ótimo nome do projeto, que era Memória emprestada. Porque tinha essa coisa de se criar memória dela a partir desses filmes domésticos de Super 8. Mas quando a gente viu o filme pronto, ainda que Memória emprestada fosse um excelente nome de projeto, ele já não se aplicava mais por conta do filme ter mudado muito. 

MCB: Na produtora vocês estão envolvidos em outros projetos de longa?

PP: Sim, tem mais um da Maria Clara e um do Rodrigo Dias, meu sócio, escrito pelo Neves, que é um roteirista muito parceiro nosso, acho que na maioria dos nossos filmes ele fez o roteiro. Os dois estão em fase de laboratório, de primeiros passos. A Maria Clara acabou de fazer uma residência em Nova York, e o Rodrigo está indo para Berlim fazer uma residência de quatro meses para desenvolvimento do projeto.

MCB: E na produção de curtas?

PP: Nós temos um curta chamado Gato borracheiro, que vai ser dirigido pela Mônica Palazzo, vai ser o quarto curta dela, ela tem uma trilogia por conta de um patrocínio do Mix Brasil. Esse vai ser o curta mais maduro, é um conto de fadas, da Gata Borralheira, chama O gato borracheiro, porque é um mecânico, um menino que trabalha em uma borracharia. Ele tem inclusão para pessoas com deficiência visual e auditiva, ele vai ter uma personagem cega, vai ter libras, close caption, audiodescrição, inclusive tem um DVD que mostra essa parte, como que é feita a audiodescrição, para que ela serve, como ela é importante e como ela inclui uma parte da população que não estava incluída no cinema, no audiovisual.

MCB: Para encerrar as únicas duas perguntas fixas do site: qual mulher do cinema brasileiro, de qualquer época e de qualquer área, você deixa registrada na sua entrevista como uma homenagem? 

PP: Nossa, são tantas. Acho que a Helena Ignez tem um carinho que eu vou levar para o resto da vida, a emoção só de estar perto dela, de ter trabalhado com ela, ela é demais. 

MCB: Qual foi o último filme brasileiro a que você assistiu sem ser na mostra? 

PP: O som ao redor (Kléber Mendonça Filho).

MCB: Muito obrigado pela entrevista.


Entrevista realizada durante a 16a Mostra de Cinema de Tiradentes, em janeiro de 2013.

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 Sala Dina Sfat
Atriz intensa nas telas e de personalidade forte, com falas polêmicas.