Ano 20

Cláudia Mello

A atriz Cláudia Mello nasceu em 27 de fevereiro de 1949, em São Paulo (SP). O início da carreira artística foi no teatro universitário: “Eu acho que o teatro universitário era muito forte na época, como eu fazia o TEMA, que era exatamente o Teatro Universitário do Mackenzie, aquilo, eu acho, meio que me encaminhou para outras coisas, porque os diretores iam assistir. Eu fui convidada pelo Boal e pelo Guarniere, a partir dessa peça que eu fiz para participar do Núcleo 2 do Teatro de Arena”. E convive com diretores e atores importantes como Juca de Oliveira, com quem foi casada: “Eu pude trabalhar com grandes diretores, me apaixonar por um ator de ponta, né, essa coisa toda importante com o Juca de Oliveira e amigos, Guarnieri, enfim, uma gama de atores muito representativos no teatro. Foi tudo muito mais que coincidência, olha que engraçado, é como se no meu mapa astral tivesse meio que determinado que eu seria uma atriz de teatro, porque isso tudo começou muito cedo, com 17 anos, né...”.

A atriz desenvolve importante e contínua carreira nos palcos, muitas vezes sendo dirigida por Fauzi Arap: “O Fauzi é um diretor extraordinário, um ator extraordinário, depois desistiu um pouco, ator sofria muito. Ele tem sido em todos esses anos um grande diretor do Brasil, ele é muito cobiçado, todo mundo quer trabalhar com o Fauzi. Então é um grande amigo e um diretor quase constante, eu aprendi muito com ele”. Já na televisão, estreia na Tupi em 1970 na novela Simplesmente Maria, seguida de outras produções como Éramos Seis (1994), no SBT, e A diarista (2004), na Globo.

Cláudia Mello estreia no cinema como Clementina em A moreninha (1970), adaptação do romance homônimo de Joaquim Manoel de Macedo, dirigida por Glauco Mirko Laurelli e protagonizada por Sônia Braga e David Cardoso. Já em seu segundo longa, encontra o polêmico e impactante cinema de Sérgio Bianchi, com o qual vai atuar em quatro filmes - A causa secreta (1994), Cronicamente inviável (2000), Quanto vale ou é por quilo? (2005) e Os inquilinos (2009) - e ganhar prêmios, passando a ser identificada como uma das musas do cineasta: “Pois é, interessante, né, eu gosto muito, eu tenho uma boa comunicação com o Bianchi, o que ele propunha eu fazia render, digamos assim. Tanto que ganhamos muitos prêmios, aqui, em Portugal”.

Cláudia Mello conversou por telefone de sua casa, em São Paulo, com o site Mulheres do Cinema Brasileiro, em abril de 2013. Ela fala sobre sua formação, a trajetória no teatro e o convívio com diretores, atores e momentos históricos importantes, os trabalhos na televisão, a estreia no cinema, o encontro com o cineasta Sérgio Bianchi, o novo trabalho e outros assuntos.



Mulheres do Cinema Brasileiro: Para começar, origem, data de nascimento e formação. 

Cláudia Mello: Eu nasci em São Paulo, capital, sou paulistana, nasci em 27 de fevereiro de 1949, tenho 64 anos, fiz agora recente. Eu tive uma formação pouca acadêmica porque eu fazia em uma época que tinha o Tuca, os teatros universitários. Eu fazia o Teatro Mackenzie com uma peça do Arthur Azevedo dirigida pelo Rui Nogueira, e, em seguida, eu fui participar do Teatro de Arena de São Paulo, o diretor era o Augusto Boal.

MCB: O Teatro Universitário e essa peça que você fez ocorreram quando? 

CM: Olha, quase 1971, 1970, foi quando eu pisei, quando eu comecei a frequentar um curso de teatro, um curso completo. Em função do TEMA, do Teatro Mackenzie, nós ficamos devendo uma peça e a partir dali eu comecei a fazer vários cursos, tive vários mestres. 

MCB: E como que foi já participando de um grupo e de um momento importantíssimo do teatro? 

CM: Eu acho que o teatro universitário era muito forte na época, como eu fazia o TEMA, que era exatamente o Teatro Universitário do Mackenzie, aquilo, eu acho, meio que me encaminhou para outras coisas, porque os diretores iam assistir. Eu fui convidada pelo Boal e pelo Guarniere, a partir dessa peça que eu fiz para participar do Núcleo 2 do Teatro de Arena.

MCB: Você ficou quanto tempo no Arena?

CM: Eu acho que uns dois anos, talvez até menos. Fizemos algumas peças do Núcleo 2 ali, Arena Canta Tiradentes, Arena Canta Zumbi, fiz dramaturgia, acho que fiquei um bom tempinho no Arena. Depois fui trabalhar com o Antunes Filho em uma montagem que era cenário da Maria Bonomi e tinha um caráter bem profissional. O Antunes, eu acho, não tinha ainda formado o CTP, que é o teatro dele, experimental. Depois eu me casei com um dos atores, Juca de Oliveira, que é um excepcional ator. Outro dia eu estava pensando nisso, muita coisa eu assimilei do Juca, da Maria Bonomi, informações importantes a respeito do teatro, a função do ator, entende? Então eu acho que isso contribuiu muito com a minha formação.

MCB: Você e o Juca fazem muitos trabalhos no teatro?

CM: Eu acho que até pouco, porque eu fui fazer A moreninha, do Joaquim Manoel de Macedo, e o Juca, nessa época, fez junto com Eva Vilma nem sei que peça. Ele tinha feito Júlio Cesar, fazia o Marco Antonio, acho que era o Flávio Rangel que dirigia. Ele já tinha o grupo dele, de atores mais velhos, pessoal inteirado. E eu sempre convidada, eu tinha um talento porque logo era convidada, fui indicada a prêmios. Eu desenvolvia nesses cursos que eu fazia, de dança, de voz, mais tarde eu fui fazer expressão corporal com o Klauss Vianna, nunca parei de me dedicar à prática e ao estudo do teatro.

MCB: O teatro é um espaço importante na sua carreira desde o início, não é?

CM: Eu acho importante, claro, a vida toda eu fiz teatro, mais que televisão e mais do que cinema.  Eu estava pensando a respeito disso, cinema, a primeira vez que eu filmei sem ser em um comercial foi com o Glauco Mirko Laurelli.

MCB: Foi a A moreninha.

CM: É, fazendo A moreninha.  A primeira vez que eu vi cinema, como que é que filmava, eu nunca antes tinha entrado em um set, em uma locação, nada disso, eu vivia em função do teatro. O primeiro foi a A moreninha, com o  Glauco Mirko Laurelli na direção.

MCB: Agora é muito impressionante porque a sua carreira é muito forte no teatro e sempre pautada por personalidades importantes e em momentos históricos importantes.

CM: Eu acho isso muito interessante e engraçado. Eu ia fazer arquitetura, mas passeando pelo Mackenzie eu vi que tinha um curso aberto para fazer testes com atores, foi quando eu fui fazer o TEMA, e depois eu fui para a Arena. Outro dia eu estava pensando sobre isso e disse assim “meu Deus, parece que foi uma coisa determinante para tudo isso, como se eu tivesse nascido para o teatro, entende? 

Uma significância muito pertinente nessa época porque o teatro do Arena era um teatro político, um teatro engajado, o próprio TEMA, o Tuca. Eu pude trabalhar com grandes diretores, me apaixonar por um ator de ponta, né, essa coisa toda importante com o Juca de Oliveira e amigos, Guarnieri, enfim, uma gama de atores muito representativos no teatro. Foi tudo muito mais que coincidência, olha que engraçado, é como se no meu mapa astral tivesse meio que determinado que eu seria uma atriz de teatro, porque isso tudo começou muito cedo, com 17 anos, né.  Eu não fiz uma escola, nada disso, as pessoas diziam  ‘mas ela tem garra, a Claudia é uma atriz de garra’, a Myriam Muniz mesmo brincava.  Eu sempre fui conhecida por essa garra, essa coisa efêmera que me diferenciava talvez de alguns colegas. O ambiente era muito mais restrito, não tinha essa imensidão de peças em cartaz, nada disso, era menos teatro, menos produções, acho que isso também fazia com que ficássemos mais conhecidos entre nós.

MCB: Você já citou alguns espetáculos aqui, mas você poderia citar alguns assim mais marcantes na sua carreira no teatro? 

CM: Olha, recentemente eu fiz um que amei, fiz um Brecht com a Denise Fraga, A alma boa de Setsuan, direção do Marco Antônio Braz. Foi um espetáculo que eu amei fazer, em um sentido assim de grupo, de jogo entre atores. Eu tenho trabalhado com o Fauzi, eu fiz uma peça interessantíssima da Leilah Assunpção (Adorável desgraçada), em que eu fazia um monólogo muito interessante, com direção do Fauzi. 

MCB: Fauzi Arap.

CM: Sim, eu tenho trabalhado sempre com ele. Eu fiz uma participação lá no Sesi, que foi o Péricles (Péricles, príncipe de Tiro), uma fábula do Shakespeare. Eu tinha uma participação mínima, mas eu adorei ficar inteirada do universo do Shakespeare, estudei muito na época, nós tínhamos um tradutor brilhante. Eu tenho outras coisas, eu fiz o Nelson Rodrigues, eu fiz a peça O pelicano, com direção do Abujamra. O meu trabalho fluiu muito, autores extraordinários, essa coisa toda, então foram espetáculos em que sempre me dediquei muito e tive um imenso prazer em fazer.

MCB: Em audiovisual, primeiro foi A moreninha, no cinema, ou foi Simplesmente Maria, na televisão?

CM: Simplesmente Maria... Não sei precisar isso, a memória trai um pouquinho... Foi primeiro A moreninha, mas posso ter feito a novela sim, eu fiquei um bom tempo na Tupi, na antiga TV Tupi. Depois eu fiz Vitória Bonelli, que foi marcante.

MCB: Com a Berta Zemmel.

CM: Com a Berta Zemmel, direção muito legal do Geraldo Vietri. Depois o Hospital (na verdade, Hospital vem antes), fui fazendo umas três ou quatro novelas.

MCB: E também nessas novelas as protagonistas são grandes mulheres do teatro, né, porque Hospital tem a Glauce Rocha.

CM: Não é uma coisa muito pensada . Eu tive uma formação de certa forma exigente, apesar de não acadêmica, mas bastante exigente em termos de o que eu vou fazer? Qual é a obra? O que eu quero dizer com isso? Acho que o Arena teve uma participação nisso muito grande, e conviver com o Juca, com a Cacilda (Becker), grandes atores. Né? Tudo que se falava se discutia, comentava-se sobre teatro, eram coisas pra mim, jovem, muito significativas. Então eu acho que isso determinou um pouco uma escolha, não aceitar qualquer papel, nem qualquer obra, compreende? Para ser sujeito do meu próprio trabalho.

 MCB: Com essa trajetória marcante que você já tinha no teatro foi difícil trabalhar na televisão? 

CM: Não. Eu me lembro que fui convidada pelo Geraldo Vietri que me viu, que peça era?...  Eu sempre fui para a televisão a partir de um trabalho que eu estava fazendo no teatro. Eu fui fazer A diarista na Globo porque o Alvarenga (José Alvarenga Jr.) e a mulher dele assistiram Caixa Dois e amaram o meu trabalho. O teatro sempre me serviu assim, não só pra isso, evidentemente, mas uma vitrinezinha para que as pessoas me convidem, os diretores. Eu nunca precisei insistir, eu sempre fui convidada, isso vem de cedo, nunca foi difícil, engraçado isso também, né.

MCB: Em A diarista já é você fazendo uma comédia, a comédia já era uma marca forte do seu trabalho anterior no teatro?

CM: Com certeza, eu fiz muitas comédias.

MCB: Você também passa por várias emissoras, não é? 

CM: Sim, quando a Tupi fechou a maioria dos meus colegas foi pra Globo, foram convidados mesmo. Eu fui morar na Europa, me casei novamente fui morar na França, fiquei três anos lá. Mas lá também eu fazia um curso de teatro, estudei, não cheguei lá fazendo peças, nada disso, mas eu procurava. Fiquei quase três anos em Paris e quando eu voltei já foi numa época em que o Fauzi me encontrou ali no Reserva Cultural, eu tinha ido ver um filme e ele também “Cláudia, o que você está fazendo minha querida?”. E eu “Estou cuidando de neném, não estou fazendo nada”. Eu cheguei no Brasil, meu filho já havia nascido e eu engravidei da minha filha. Ele me convidou para fazer uma peça do Plínio Marcos, O abajur lilás, com a Walderez de Barros, Anamaria Dias. Era uma peça fortíssima, interessante, a Walderez ganhou o prêmio Moliere. Assim nasceu uma amizade, um contato, uma troca grande entre todos nós. O Fauzi é um diretor extraordinário, um ator extraordinário, depois desistiu um pouco, ator sofria muito. Ele tem sido em todos esses anos um grande diretor do Brasil, ele é muito cobiçado, todo mundo quer trabalhar com o Fauzi. Então é um grande amigo e um diretor quase constante, eu aprendi muito com ele.

MCB: Esse período que você ficou na França foi quando? 

CM: Acho que 1974, meu filho nasceu em 75 e eu tive ele lá, então nesse período eu ainda estava lá, porque eu fiquei até ele completar quase sete meses, de sete para oito meses nós voltamos.

MCB: No cinema seu primeiro filme é A moreninha.  Como você chegou ao cinema?

CM: Sabe que eu não me lembro? Eu fui convidada, eu me lembro que eu não fazia teste, eu fiz muito teste depois, mais tarde. Eu estava na televisão. Eu acho que o Glauco (Glauco Mirko Laurelli, diretor) ia para Parati muitas vezes, quem morava lá era Maria Della Costa. Eu fui convida para fazer.

MCB: Você fazia a Clementina, não é? 

CM: Fazia a Clementina, era um papel pequeno, mas gracioso, muito bonitinho.

MCB: Você gostou de fazer cinema? 

CM: Amei, gostei muito. Tenho gostado, porque agora nosso trabalho é quase cinema, né, esses trabalhos que a gente está fazendo pra GNT. Trabalhei alguns anos com o Sérgio Bianchi.

MCB: Nós vamos falar do Sérgio, mas antes....

CM: O Sérgio é outro que me convidou. Acho que para o terceiro ou quarto filme dele, que é A causa secreta (1994), foi um sucesso. Antigamente, há uns 20 anos, a gente convivia muito, o pessoal do teatro, a gente ia aos restaurantes que as pessoas iam. Eu conheci o Person, não fiz nada com ele, mas admirava, conversava e tudo mais.

MCB: Ok, mas vamos só recuperar um pouquinho.  A moreninha é um musical, a gente tinha uma tradição de musical nas chanchadas, depois o musical foi sendo abandonado um pouco pelo cinema. Ultimamente tem sido recuperado, de alguma forma, principalmente no teatro.

CM: Agora são as produções americanas.

MCB: Como foi viver em Parati? Como foram as filmagens?

CM: Em Parati eu não fui não, a Sônia (Braga) que foi. Eu filmei aqui em São Paulo, na casa da fazenda, aqui no Morumbi, eles transformaram na locação do filme.

MCB: Foi tranquila a direção do Glauco? Como foi?

CM: Ah, foi maravilhoso, o Glauco é maravilhoso, incrível, era ótimo. Mas eu me lembro que eu ficava aflita, eu chorei, teve um dia que eu chorei.  Eu fui ficando adestrada, eu acho que a partir do Sérgio Bianchi eu comecei a interagir mais com a câmera, com os colegas, a equipe. Cinema é uma arte de grupo, praticamente, toda a minha atuação é fazendo isso, essa interação. Então é uma coisa que a gente se dedica à obra, isso é muito interessante, me dá muito prazer, a gente se diverte também, é tudo muito bom. 

Quando eu fiz Nelson Rodrigues eu li toda a obra do Nelson, biografias. Quando eu fui fazer a A alma boa de Setsuan, a gente não falava só de Brecht, a gente estudava outras coisas, falava sobre literatura, cinema, tudo é subsídio, compreende? Então é mais em função do que eu estou fazendo no momento, que aí eu vou buscar, eu adoro essa parte, mesmo que na hora de representar a gente esqueça tudo isso. Eu adoro essa parte do estudo, ler, se inteirar de tudo, né.

MCB: O Bianchi já vinha com um cinema muito forte, né, o Maldita coincidência, Mato eles, Romance. Depois de A moreninha você faz o Causa secreta, não é? Você fica esse tempo sem fazer cinema.

CM: Não, a A causa secreta foi muito mais recente, depois de A moreninha eu fui trabalhar com o Abujamra.

MCB: Mas eu falo no cinema. 

CM: No cinema, eu acho que foi logo que eu fiz um curta, que eu acho que passou no Masp, era uma companhia ali na Vila Madalena. Era um filme interessante, sobre uma mulher que engravidava, essa coisa toda.

MCB: O A causa secreta é o segundo longa.

CM: Exatamente. 

MCB: Como foi o encontro com esse cinema fortíssimo do Sérgio Bianchi?

CM: Pois é, interessante, né, eu gosto muito, eu tenho uma boa comunicação com o Bianchi, o que ele propunha eu fazia render, digamos assim. Tanto que ganhamos muitos prêmios, aqui, em Portugal, ganhei um Candango (Festival de Brasília), acho que foi pelo A causa Secreta, de Melhor Atriz. Depois no Quanto vale ou é por quilo? (2005) eu também ganhei o Prêmio FIESP, APCA, eu ficava ganhando os prêmios, foi com o Bianchi, a gente se entende bem. Engraçado, eu tinha uma facilidade para captar o que ele estava propondo, entra a intuição, eu tenho um pouco essa formação de não me preocupar com a câmera.

MCB: Você poderia falar um pouco sobre essas suas atuações com ele, A causa secreta, Cronicamente inviável...

CM: Eu acho muito interessante, fico satisfeita com o resultado do trabalho entendeu? Acho interessante, fica ali com a obra, né, com o que está mostrando, essa objetividade, é um filme de violência, é um filme de causas sociais muito forte. E tem toda a beleza da fotografia e tudo mais.  Eu nunca trabalho pensando no resultado, eu sempre vou embarcada no processo. No que acontece com o resultado eu fico feliz, depois premiam a gente, tem essa coisa de reconhecimento de trabalho, que é interessante. Eu já estou em uma fase em que eu não me baseio em mais nada “grande atriz”, “ maravilhosa”. Nada disso, qualquer coisa que eu vou fazer, seja no teatro ou no cinema isso não serve mais em nada. Se eu sou boa, se eu sou ruim, não me interessa nada disso, agora eu tenho muito mais liberdade, muito mais desprendimento para fazer qualquer trabalho.

MCB: Para nós, público, você acabou ficando assim muito musa do cinema do Bianchi, você fez quatro filmes com ele, né?

CM: Pois é, me chamavam de Bianchiana.

MCB: Porque tem a ver com aquilo que você falou anteriormente, dessa sua marca de interpretação, de garra.

CM: É, que faz sentido com o que ele propunha. 

MCB: Não é isso? 

CM: Eu acho que sim.

MCB: Porque o cinema dele é tão forte, polêmico, temas urgentes.

CM: Exatamente. E a gente não pode tomar partido, isso não é televisão “vamos lá, vamos adiante, vamos mais,”. Não tenho nada contra a televisão, mas era característica do trabalho, né.

MCB: O último que você fez com ele é o Inquilinos, você faz a Consuelo.

CM: Foi, no Inquilinos eu tive uma participação, eu estava fazendo uma peça com o Caio Blat, com direção do Fauzi. Aí ele foi lá e nos convidou, a mim e ao Caio para fazer uma participação no Inquilinos.

MCB: Você está fazendo um outro trabalho, vamos falar sobre ele? 

CM: Acho que podemos. Eu estou adorando, não sei como vai resultar, mas é um processo maravilhoso. Estou com minha grande amiga e colega do teatro, que é uma atriz de primeira linha. Todo mundo que entra para fazer uma participação não só são pessoas muito queridas, como fazem brilhantemente. Eu tive uma cena com a Márcia Manfredini, por exemplo, que faz a minha vizinha, faz uma participação fazendo a minha vizinha, uma delicia.

MCB: Como se chama o trabalho? 

CM: Chama-se Três Terezas, estreia dia 8 de maio na GNT, as 22h30. Eu faço uma dessas Terezas. Eu faço a Terezinha, Denise Fraga faz a Tereza, e uma menina fantástica, que é a Manoela Aliperti, faz a Tetê. É um prazer, uma delícia, não sei explicar, eu estou ficando apaixonada. Outro dia eu disse lá para o Roberto, que é um dos assistentes de câmera, que depois, quando o filme acabar, eu queria continuar. Se não tenha uma coisa, um assistente, continuísta, alguma coisa que eu possa fazer nos bastidores porque a gente vai se apaixonando por esse processo. É cansativo, mas é bom ao mesmo tempo. A Maria Farkas faz assistência de direção. Eu já tinha feito outro filme, agora recente, com o Gal (Luiz Alberto Pereira), As doze estrelas, e  a Maria fez a assistência de direção, não é de direção, é aquela que fica dando as coordenadas no próprio set.  É uma maravilha, eu estou cada vez gostando mais desse processo do cinema.

MCB: A direção é de quem? 

CM: É do Luiz Villaça. Ótimo, maravilhoso, uma afinidade, uma competência. Ele é parte da coisa toda, a gente não sente o diretor chapado, é aquela coisa do diretor que interage, que é bom, dá a dica certa na hora certa.

MCB: Tem algum outro filme que a gente não falou? 

CM: Talvez o do Gal, eu fiz com o Gal o As doze estrelas.

MCB: Para terminar, as únicas duas perguntas fixas do site. Primeira: qual foi o último filme brasileiro a que você assistiu? 

CM: Eu sou rata de cinema, mas o brasileiro que eu assisti...  eu não vi esse O som ao redor, uma pena. Eu vi o daquela menina, como que é?  O Eu, Verônica (Era uma vez, eu Verônica).

MCB: Ah sei, com a Hermila Guedes.

CM: Isso mesmo, amei.

MCB: Filme do Marcelo Gomes.

CM: Adorei.  Eu vou muito ao cinema, vire e mexe eu vou lá no Reserva Cultural, aqui em São Paulo, no Itaú Unibanco, vejo todos os filmes que você possa imaginar. Nessa semana eu acho que vou ao cinema, eu gosto demais.

MCB: A outra pergunta é qual mulher do cinema brasileiro, de qualquer época e de qualquer área...

CM: Ah, meu amigo, isso é inevitável, Leila Diniz, acho extraordinária. Coisas com a Helena Ignez, sensacional. Agora recentemente tem essa menina que eu acho simpática, em Eu, Verônica.

MCB: Hermila Guedes. 

CM: Hermila Guedes, excelente. Em Central do Brasil a Fernanda dando um show, né. Mas eu adoro a Fernanda Torres, eu sou muito fã da Fernanda, eu acho ela iconoclasta, ela faz o que ela quer, faz umas caras.  Eu acho extraordinário um filme que ela faz com o Wagner Moura, fazendo um filme em uma cidadezinha, possivelmente em Minas, uma ficção científica, um filme irônico, delicioso.

MCB: Acho que esse que você está falando é o Saneamento básico – o filme (Jorge Furtado). 

CM: Saneamento básico.

MCB: Ele foi rodado no Sul.

CM: Poxa, um filme divertidíssimo, interessante. E o filme que ela fez, de época.

MCB: Inocência (Walter Lima Jr.).

CM: Eu sou muito fã da Fernanda. Gosto muito da Drica Moraes, dessa nova geração, né, a própria Denise (Fraga).

Então deixa eu ver, essas são as que me vieram à cabeça, mas certamente tem atrizes ótimas, maravilhosas. A Helena Ignez eu acho uma coisa, outro dia alguém postou no Face uma imagem dela, aquilo marcou muito. 

MCB: Muito obrigado pela entrevista.



Entrevista realizada em abril de 2013.

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Sala 
 Sala Dina Sfat
Atriz intensa nas telas e de personalidade forte, com falas polêmicas.