Ano 20

Lidia Mattos

Lídia Mattos é uma grande atriz brasileira. Sucesso no rádio, no teatro, no cinema e na televisão, Lídia Mattos e o também ator e escritor Urbano Lóes se conheceram na Rádio Mayrink Veiga. A partir daí, uma família de artistas vem marcando as artes cênicas brasileiras – além deles, a filha é a atriz, produtora, roteirista e cineasta Dilma Lóes; a neta é a atriz Vanessa Lóes. 

No cinema, Lídia Mattos foi dirigida por grandes mestres, entre eles aquele que é considerado o pai do cinema brasileiro e de quem foi uma das musas: Humberto Mauro. Com o genial cineasta, Lídia Mattos atuou em “Argila” (1940) – quando conviveu com Carmen Santos, e “O Despertar da Redentora” (1942). Sua estréia no cinema foi no filme "Aves sem Ninho" (1939), de Raul Roulien. Nos anos 1940 e 1950 atuou em filmes de nomes como Ruy Costa ("Pega Ladrão" - 1940), Moacyr Fenelon (“Gente Honesta” – 1944), Carlos Hugo Christensen (“Mãos Sangrentas” – 1955) e Eurípedes Ramos (“O Diamante” – 1956). 

Lídia Mattos atuou também em muitos filmes nas décadas de 70 e 80, sendo o último até agora “Eu Não Conhecia Tururu”, em 2001, estréia da atriz Florinda Bolkan como cineasta, e por qual recebeu o prêmio de Melhor Atriz Coadjuvante no Festival de Gramado. Ano passado, em 2006, foi homenageada no CINE-PE. No teatro, atuou em muitas peças, como também na tv em teleteatros, novelas e programas como “Eles estão em casa”, apresentado na TV Tupi e protagonizado por toda a família: “foi um programa ótimo, porque os meninos todos, os meus quatro filhos estavam comigo, cada um fazendo uma coisa”.

Lídia Mattos conversou com o Mulheres. As perguntas foram enviadas por e-mail e sua filha, Dilma Lóes, filmou suas respostas, vez ou outra relembrando com ela alguns momentos. Nesta entrevista, Lídia Mattos refaz sua trajetória, fala da época do rádio, do teatro, da televisão, do cinema e da alegria de ver filha e neta como atrizes: “(vejo) com muita alegria, estímulo. É muito gostoso para mim ver elas seguindo a mesma carreira que eu segui”.


Mulheres: A senhora começou sua carreira no rádio, não é? Dá para relembrar para nós como foi esse tempo de cantora e de rádio-atriz?

Lídia Mattos: Sim, no rádio. Eu não era cantora, eu fui cantora por acaso. Eu era atriz, apenas atriz. Eu fiz teatro. Cantora não, gostaria de ter sido (risos)

(Dilma Lóes relembra à mãe o fato dela ter sido aluna predileta de Villa-Lobos) 

Lídia Mattos: O Villa-Lobos eu conheci na Escola México. Ele era o nosso professor de música. Ele tinha uma admiração muito grande por mim. Eu tinha dez ou onze anos, porque eu estava no primário. Eu chamava atenção, eu dava palpite, era conhecida porque eu representava no colégio.

No rádio, o primeiro programa que eu trabalhei foi na Rádio Guanabara, que era perto da minha casa. Trabalhei na Rádio Transmissora e passei também pela Rádio Cruzeiro do Sul.

Mulheres: O casamento com Urbano Lóes se deu nesta época? Como se conheceram?

Lidia Mattos: Foi na Rádio Mayrink Veiga, eu fazia teatro, tinha contrato, e ele também.

Mulheres: O teatro veio a seguir? Qual foi o espetáculo de estréia e quais os trabalhos preferidos?

Lidia Mattos: Mais ou menos, às vezes eu fazia uma peça de teatro. A primeira peça que eu fiz eu não me lembro. (das preferidas) Tem o “Vidigal” e “Divórcio, o cupim da Sociedade”. Eu fiz muitas peças.

Mulheres: O primeiro filme foi “Aves sem Ninho”, de Raul Roulien, ou “Pega Ladrão”, de Ruy Costa? Dá para nos contar como se deu esta estréia?

Lidia Mattos: O primeiro foi “Aves sem Ninho” (1939), depois “Pega Ladrão” (1939), “Argila” (1940), do Humberto Mauro, e “O Despertar da Redentora” (1942 - curta), do Humberto Mauro, em que eu fazia a Princesa Isabel.

Mulheres: Como foi trabalhar com Humberto Mauro em “Argila”? Como foi escalada para este filme?

Lidia Mattos: Foi muito bom, muito educado, muito sensível, muito sorridente. Estávamos todo lá para fazer o filme, a mulher dele (Bebê, nome artístico Lola Lys), minha mãe me acompanhando.

Com o Raul Roulien (“Aves Sem Ninho”) foi muito bom, natural. Dos diretores, o que eu mais gostei tem o Roulien, ele sabia mais, ele veio dos Estados Unidos, de Hollywood. Já o Humberto Mauro era diferente, outro estilo.

Mulheres: Dá para a senhora nos contar como foi a convivência com Carmen Santos?

Lidia Mattos: Superficial, completamente superficial. Nos dávamos bem, ela gostava de mostrar seu valor, uma vez me mostrou um armário imenso, com todos os vestidos de outros filmes.

Mulheres: Os outros cineastas com quem trabalhou nos anos 40 e 50 foram Moacyr Fenelon, Carlos Hugo Christensen e Eurípedes Ramos, não é isso? Dá para a senhorar comentar sobre esses trabalhos?

Lidia Mattos: Sim, com cada um deles eu fiz um filme.

Mulheres: A estréia na televisão foi nos teleteatros ou na novela “Assim na Terra como Céu”, de Dias Gomes? Quais os trabalhos preferidos na TV?

Lídia Mattos tem uma reposta hilária para esta pergunta. Sua filha Dilma Lóes publicou no youtube

veja a resposta


(Depois acrescenta, falando dos programas em que participou – com explicações entre parênteses de Dilma Lóes:)

Lidia Mattos: 
“Eles estão em casa” (apresentado na TV Tupi, história de uma família com Lídia Matos, o marido e ator Urbano Lóes e os filhos, com participação de convidados – muitos pensavam que era de verdade, que era gravado na casa dos atores): Foi um programa ótimo, porque os meninos todos, os meus quatro filhos estavam comigo, cada um fazendo uma coisa.

“Rio cinco pras cinco” (na Tv Rio): Esse já era diferente, ficou muitos anos. Ele entrava às cinco pra cinco e terminava às cinco pras seis (risos). Era um programa de variedades.

“Boliche Royal” – O “Boliche Royal” era outra coisa, você está me lembrando de coisas formidáveis (diz para a filha, Dilma Lóes, que a lembra do programa). Era um programa de prêmios. Eu ficava numa torcida para eles ganharem. 

“É Proibido Falar” (programa de sucesso, todo de mímica) – Esse foi na TV Tupi.

Foram todos na mesma época (anos 50). O Urbano tinhas as idéias e outras pessoas dirigiam. Ele escrevia. Tinha o “Conversa entre amigos”, que era um programa dele, ele fazia, escrevia e apresentava.

Fiz muito teleteatro, muitas peças. A primeira novela eu não me lembro. Teve “Selva de Pedra” (1972 - primeira versão), “O Homem que deve morrer” (1971), “Plumas e Paetês” (1980), uma participação em “O Bem Amado” (1973).

Mulheres: A senhora faz parte de uma família de artistas. Como é ver sua filha e neta também atuando na carreira artística?

Lídia Mattos: Com muita alegria, estímulo. É muito gostoso para mim ver elas seguindo a mesma carreira que eu segui.

Mulheres: Qual foi o último filme brasileiro que assistiu?

Lídia Mattos: “Se eu Fosse Você” (Daniel Filho – 2006). Gostei muitíssimo. Um filme diferente, atualizado, moderno, eles todos muito bem. Formidável.

Mulheres: Muito obrigado pela entrevista. 


Entrevista realizada em julho de 2007.

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 Sala Dina Sfat
Atriz intensa nas telas e de personalidade forte, com falas polêmicas.